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Catarina Costa e a periferia

Catarina Costa recebeu o Prémio Nacional de Literatura Lions de Portugal 2022 com “Periferia”. É o seu primeiro romance depois de ter começado a publicar poesia em 2008: “A ficção surgiu de forma natural, ao sentir necessidade de dar uma forma mais narrativa e mais detalhada às ideias que queria fixar no papel”. Com uma narrativa cinematográfica, vai revelando o difícil dia-a-dia de uma mulher em fuga permanente pelas ruas de uma cidade opressiva, cruel e perigosa. O resultado é uma interessante obra distópica e muito intensa. A ler, sem a mínima dúvida.

Como recebeu o Prémio Nacional de Literatura Lions de Portugal?

Com surpresa e alegria. Não tinha expectativas de ganhar o prémio (nem estava sequer a pensar nisso) por isso quando recebi a notícia fiquei obviamente feliz.

«Periferia» é o seu primeiro romance: como espera poder olhar para ele daqui a 20 anos?

Espero poder olhar para ele com curiosidade e até nostalgia, como quem descobre um objecto singular, embora não inteiramente estranho, do passado. Parece-me lógico que vá encontrar linhas de continuidade entre este livro e o que quer que eu esteja a escrever nessa altura. Por outro lado, não costumo focar-me muito nas coisas que escrevi (publicadas ou não) em épocas mais distantes da minha vida. Sinto que devem manter-se no sítio onde ficaram, em repouso.

Qual a ideia que esteve na base desta obra?

Eu pretendia narrar as deambulações de uma mulher em fuga por uma cidade e que estabelecia para si mesma o objectivo de, dia após dia, passar despercebida entre a multidão. As deambulações desta mulher, que se transformava numa espécie de fantasma, seriam também uma travessia interior. Ao mesmo tempo que ela seria conduzida pelo medo e pelo instinto de sobrevivência, tendo de focar a acção e o pensamento no que seria urgente e essencial, ela também iria encontrando o seu espaço de reflexão sobre os lugares que cruzava. Progressivamente fui desenvolvendo a narrativa e a ambiência distópica em que esta personagem se movia.

Depois de vários livros de poesia, como surgiu a ficção no seu processo criativo?

A ficção surgiu de forma natural, ao sentir necessidade de dar uma forma mais narrativa e mais detalhada às ideias que queria fixar no papel. Penso, de qualquer forma, que a escrita poética é um bom ponto de partida para a exploração de outras escritas literárias. Aprender a depurar as palavras como quando escrevemos poemas ajuda-nos a ter um maior domínio sobre a linguagem.

Quais são os autores que mais influenciaram a sua escrita de ficção?

São muitos. Alguns autores influenciaram-me mais directamente, enquanto outros de modo mais inconsciente. Posso deixar aqui alguns nomes, sem nenhuma ordem em particular: Franz Kafka, Fernando Pessoa, Maria Gabriela Llansol, Thomas Bernhard, Clarice Lispector.

Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?

Neste momento estou apenas a recolher ideias para aquilo que será talvez outra obra de ficção, mas ainda não tenho nada de substancial para além de muitos apontamentos fragmentários que, aliás, entram em colisão uns com os outros.
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Entrevista de Nunes Carneiro

Periferia de Catarina Costa

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