“O tempo é semelhante ao vento, passa muito rápido, num piscar de olhos, por isso, estamos hoje aqui para comemorar os 70 anos de fundação da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria. Evidentemente que vamos relembrar a utopia e os sonhos de muitos abnegados que, alimentados pelo patriotismo e pela devoção à terra de berço, criaram a Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria”. Foi com estas palavras que Ernesto Boaventura, presidente da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria, no Rio de Janeiro, Brasil, iniciou o seu discurso, durante a sessão solene comemorativa dos 70 anos de fundação desta que é considerada uma das principais casas portuguesas no Brasil.
“Como não ser grato à Manuel Lopes Valente, fundador da matriz feirense no Rio de Janeiro, onde se reuniam as famílias e cultivavam as tradições. Não deixaremos que entre as nuvens do esquecimento e as neblinas de saudade o seu nome desapareça na história. (…) Assim, ele convocou os amigos e partiram para a construção de um espaço que demarcasse em terras cariocas as pedras e as muralhas do Castelo de Santa Maria da Feira. Esta casa tem, como sabemos, um passado rico de vitórias e realizações. Tornou-se, pelo milagre do trabalho, um verdadeiro polo de luso-brasilidade. Modernizou as suas instalações, ampliou atividades desportivas, cativou uma juventude que passou a frequentá-la espontaneamente”, comentou este responsável, que sublinhou a importância da etnografia e do folclore para a manutenção da cultura portuguesa na cidade maravilhosa.
“Os grupos folclóricos são a alma das casas portuguesas. São jovens que trazem na sua essência e nas suas almas o amor pelas nossas tradições. (…) Tivemos que nos recriar, nos reinventar”, frisou Ernesto Boaventura.
Localizada no bairro da Tijuca, Zona Norte carioca, a Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria é hoje uma referência no movimento associativo português no Estado fluminense e no país. Conta com dois salões, um social e outro nobre, além de outros espaços, bem como um restaurante, recentemente reformado com a ajuda de “um grande feirense”, António Ribeiro da Rocha, uma quadra polidesportiva, que serve de cenário para atividades como futsal e voleibol. Os frequentadores da Casa têm acesso ainda à ginástica artística, jazz, balé, judo, jiu-jitsu, Muay thai, natação, hidroginástica, Pilates e um ginásio para a prática de exercícios físicos. Dezenas de componentes integram o “Grupo Folclórico Almeida Garrett” e o “Rancho Folclórico Infantojuvenil Danças e Cantares das Terras da Feira”. A lista de atividades incluiu a organização de uma colónia de férias, duas vezes ao ano, festival de folclore, viagens a Portugal para apresentações e aproximação dos componentes dos grupos folclóricos com o legado etnográfico lusitano, entre muitas outras iniciativas que promovem a conexão Brasil-Portugal.
“E isto faz-nos feliz, pois, assim, podemos semear nos seus corações o amor e a amizade pela nossa Casa, pela luso-brasilidade. Sei que podemos contar com a ajuda de todos os brasileiros e portugueses para que esta Casa continue sendo o marco santamariano no Rio de Janeiro”, comentou o presidente da entidade.
Por sua vez, o orador oficial da noite, o presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Emídio Sousa, ressaltou que “são sempre especiais os momentos que aqui vivemos, momentos de genuína generosidade, de contínua simpatia e empatia que guardaremos para sempre nas nossas memórias. Esta é a terceira vez que visito o Brasil e a casa da Vila da Feira. Estive cá pela primeira vez em 2014, regressei quatro anos depois, em 2018. É sempre uma honra e um enorme privilégio representar o município de Santa Maria da Feira nesta sessão solene a celebrar, convosco em particular, esta efeméride que é tão marcante e tão simbólica, que são os 70 anos de vida e de atividade plena, sete décadas a construir uma extraordinária obra associativa, sete décadas a promover a cultura e as raízes lusas e santamariana, um trabalho extraordinário”.
Este autarca não escondeu a gratidão pelo carinho do povo carioca, em especial de Ernesto Boaventura, com a história e as tradições de Santa Maria da Feira.
“Olho para o meu amigo Ernesto Boaventura e vejo esse pai da Casa da Vila da Feira, o pai de uma instituição que abraçou com todo amor, entrega e abnegação, com a particularidade de não ser o filho de sangue de Santa Maria da Feira, o que torna esta ligação umbilical ainda mais admirável e surpreendente. Os verdadeiros feirenses são os que amam Santa Maria da Feira, são os que lutam por Santa Maria da Feira, são os que têm alma feirense, os que enaltecem e dignificam a nossa terra, quero, por isso, em representação oficial do município de Santa Maria da Feira, agradecer-lhe profundamente por todos estes anos que já dedicou à Casa da Vila da Feira, seja como presidente, entre 1991 e 1999, e desde 2007 até à atualidade, seja como um membro ativo, participativo e interventivo nesta instituição”, recordou Emídio Sousa.
Luís Faro Ramos, embaixador de Portugal no Brasil, presidente da mesa de honra, encerrou a sessão solene ao sublinhar a importância e a magnitude das relações entre Brasil e Portugal.
“Há mais brasileiros e brasileiras em Portugal, é uma realidade que não vai parar de acontecer, vai exclusivamente aumentar, nós temos estatísticas já de cerca de meio milhão de brasileiros em Portugal. Um artigo de jornal, no outro dia, dizia que, dentro de cinco anos, poderá chegar a um milhão. Pois são muito bem-vindos! Portugal precisa de todos e quando falamos a mesma língua, melhor ainda. E porquê é que eu estou a falar disto aqui? Porque vocês são muito importantes a passar a palavra, explicar às pessoas que perguntam: “Como é Portugal?”. E vocês são importantes para explicar como é que é Portugal, um país que mantém as tradições, mas, ao mesmo tempo, sabe ser moderno, sabe ser competitivo, sabe estar no século XXI, sabe ter soluções tecnológicas que atraem pessoas de todas as idades, de todo o mundo, obviamente, o Brasil não é exceção”.
Convidados e público “de peso”
A mesa de honra concentrou autoridades da diplomacia portuguesa no Brasil, como Luís Faro Ramos, embaixador de Portugal no Brasil, que presidiu à mesa; Gabriela Soares de Albergaria, Cônsul-geral de Portugal no Rio de Janeiro; Emidio Sousa, presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, que foi o orador oficial do evento; Flávio Martins, presidente do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas; além de nomes importantes do movimento associativo português no Rio de Janeiro, como Ernesto Pires de Boaventura, presidente da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria, aniversariante do dia; Francisco Gomes da Costa, presidente da Associação Luis de Camões; Adão Ribeiro dos Santos, ex-presidente e presidente da Assembleia Geral da Casa; Antônio Simões da Conceição, ex-presidente e vice-presidente da Assembleia Geral da entidade; Roberto Camilo Caetano Leitão, vice-presidente do Conselho Deliberativo da Casa; e Claúdio Murad, presidente da Casa dos Poveiros do Rio de Janeiro, local onde foram realizadas as primeiras reuniões da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria, no passado. Marcou presença também Alcides Martins, subprocurador geral da República Federativa do Brasil, que é natural de Vale de Cambra, em Portugal.
Já em solo português, a nossa reportagem voltou a manter contacto com Emídio Sousa, presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, que falou sobre a participação na festa na Casa de Vila da Feira no Rio de Janeiro.
“É uma honra para a Câmara de Santa Maria da Feira, todos os anos, participar nas festas. Em 2023, foi a terceira vez que lá fui. Já foram outros vereadores porque é um carinho, nós sentimos que com esta participação estamos a manter este vínculo, estamos a manter esta ligação à terra. Este sentimento de pertencer a um território, e aquela ideia muito nossa, muito portuguesa de saudade, que estejamos onde estivermos, seja o canto do mundo que for, que o nosso lugarzinho, aquilo sítio que tanto nos diz, a nossa terrinha, está sempre lá”, finalizou o autarca.