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Bafio a salazarismo

Nunca eu me sentira até então aterrado na cadeira frente ao médico, naquele momento em que me lembrou o tempo da outra senhora que eu já não vivi praticamente, mas tenho sentido o que são as governações dos últimos anos, com particular ênfase para a política genocida de Saúde dos últimos três anos.

O médico de família, no Centro de Saúde de Felgueiras, em Margaride, diz-me que me não podia passar uma credencial para fazer fisioterapia porque só esse procedimento custa cento e cinquenta euros.

Em vinte e nove de Janeiro o médico fisiatra do Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE, em Guimarães, entendeu que eu precisava de fazer fisioterapia. Coisa que há dezenas de anos faço de vez em quando.

Deu-me uma cartinha para o Médico de Família. Nesse mesmo dia passei pelo Centro de Saúde para saber se precisava de ser visto pelo médico, ou se lhe faziam entregar a carta. Que sim. Que entregavam, mas ficou logo o registo do procedimento administrativo. Ou seja: a ARS já estava a pagar ao Centro.

Acresce que de Guimarães trouxe já a consulta marcada para Abril para saber do desenvolvimento do tratamento de fisioterapia.

Durante todo o mês de Fevereiro procurei a resposta à carta do pedido de fisioterapia, que se consubstanciaria numa credencialzinha que me permitia ir a uma clínica das tantas que existem em Felgueiras, para marcar a devida e necessária fisioterapia.

Ao fim de algum tempo, uma senhora administrativa decidiu falar ela com o próprio médico. Mandou que eu fosse a uma consulta que por sinal foi arranjada para o outro dia.

O Médico de Família começa por me contar que, como bem sei, não há dinheiro, e só o procedimento administrativo de passar a credencialzinha custava cento e cinquenta euros ao Serviço de Saúde.

À sua frente aterrei na cadeira. Como se um buraco fundo me catapultasse para o tempo do salazarismo. Sabia que isto está mal. Mas não pensei que chegaríamos ao ridículo. Fiquei quase mudo e sem muita reacção.

Estava ali ante um acto que mostra ao que o país chegou e muito particularmente sobre a falta de consideração pelo meu estado doente de há quase três décadas.

O Médico de Família ainda ligou para o médico em Guimarães, mas infrutiferamente. Disse-me que o faria ao outro dia e me contactaria para o telefone cujo número apontou com a sua própria mão.
A ideia era o Hospital de Guimarães assumir o tratamento. E eu tenho que ter possibilidades de deslocação, que o Centro de Saúde não tem.

Nada. Chegou o dia e nada. Nem a delicadeza da resposta que cumpre dizer em que estado estão as coisas.

Voltei lá daí a uns dias. As coisas continuavam rigorosamente na mesma.
Por fim liguei por telefone ao Centro de Saúde, quando me dizem que o médico havia ligado a Guimarães, mas que ficaram de me dar uma resposta de lá mesmo.

Não deram.

Passaram dois meses.
Em Abril tenho nova consulta de fisiatria para o médico aquilatar do desenvolvimento da fisioterapia. E eu ainda não sei quando vou e se vou fazê-la.

Como sempre digo, que mesmo que tivéssemos governos competentérrimos, cá no fundo, quem bule nas coisinhas, se fizesse o que deve e como deve, as coisas, na generalidade, não eram assim. Creio que em muitos casos e neste em especial, se pretende ser mais papista que o papa.

E é isto o país que me querem impor, quando eu desejo ser apátrida.
(Não pratico deliberadamente o chamado Acordo Ortográfico).

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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