Austrália reconheceu o “papel histórico” de Portugal em Timor-Leste
O chefe da diplomacia portuguesa, Paulo Rangel, agradeceu à Austrália por “ter percebido qual era o seu papel histórico” quando liderou a Força Internacional para Timor-Leste (Interfet), que entrou no país a 20 de setembro de 1999.
“Nós temos de agradecer à Austrália, à Nova Zelândia, e a tantos outros, mas, em particular à Austrália, que teve outras posições no passado, ter percebido qual era o seu papel histórico nesse momento”, disse Paulo Rangel, referindo-se ao facto de as autoridades australianas terem apoiado a ocupação indonésia de Timor-Leste, em dezembro de 1975.
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal falava na conferência, organizada pela Presidência timorense, para assinalar os 25 anos de criação da Interfet.
A Interfet entrou no país após uma campanha de violência e terror liderada pelas milícias pró-indonésias, na sequência do anúncio dos resultados do referendo de 30 de agosto de 1999, que teve como consequência o fim da ocupação indonésia do território e a restauração da independência de Timor-Leste.
“Este é também um tributo que é devido e que é justo”, salientou o ministro Paulo Rangel.
O chefe da diplomacia portuguesa destacou também o comportamento das autoridades da Indonésia que “cumpriram a sua palavra” e também “merecem ser homenageados por isso”.
“Porque nós temos em toda a vida diplomática a experiência de estados que se comprometem e depois não cumprem, que não honram a sua palavra, que não são capazes de aceitar a sua responsabilidade histórica e isso as autoridades indonésias também foram capazes de o fazer”, disse Paulo Rangel.
O ministro português destacou também que a Interfet teve um “papel muito importante de estabilização” e que só aceitou participar como orador na conferência para “homenagear a comunidade internacional e, em particular, a Austrália”, por no “momento decisivo terem sido parte ativa e fundamental da solução”.
“É admirável para quem, como eu, hoje como ministro dos Negócios Estrangeiros, com dois conflitos graves à porta da Europa, ver como 25 anos depois estes países, Timor-Leste, Indonésia, Austrália, com certeza com diferenças, com tensões, com visões diferentes, são capazes de conviver e de não ter ressentimentos uns contra os outros”, salientou Paulo Rangel.
“Isto é um exemplo para o mundo inteiro. Para mim esta é a grande lição dos últimos 25 anos. É passado 25 anos podermos dizer que todos se admiram e todos respeitam o papel que cada um teve em cada momento”, disse, recebendo os aplausos da plateia.
As autoridades timorenses iniciaram esta sexta-feira com a conferência na Presidência as celebrações dos 25 anos da chegada da Interfet, uma força de manutenção de paz que interveio no país para responder à crise humanitária e de segurança e que contou com a participação de 21 países.
A conferência contou também com a participação do Presidente timorense, José Ramos-Horta, do primeiro-ministro, Xanana Gusmão, e de Peter Cosgrove, que liderou a missão, entre outros.
As celebrações incluem ainda um desfile no sábado, entre o porto de Díli e a Presidência timorense, a inauguração do memorial da Interfet, bem como jogos de futsal e um concerto.
No dia 20 de setembro, data que assinala os 25 anos de chegada da força ao país, realiza-se uma cerimónia na sede do Conselho dos Combatentes da Libertação Nacional.
O ministro dos Negócios Estrangeiros português chegou a Díli na quinta-feira para uma visita de três dias, que termina no sábado.