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As eleições autárquicas e o combate ao despovoamento

Ao longo destes dias tenho sido testemunha da imensa devoção dos candidatos às eleições autárquicas. São milhares de cidadãos, homens e mulheres de todas as idades, animados pela ideia de melhorarem os seus concelhos e freguesias. Muitos deles candidatam-se pela primeira vez, alentados pelo desafio de fazer algo pelos outros, para melhorar a qualidade de vida de cada lugar, vila ou cidade. É a democracia a funcionar, no respeito pela diversidade de ideias. Merecem todos o nosso respeito e reconhecimento.

O poder local autárquico é um motor extraordinário de transformação do país, dos pequenos lugares às grandes cidades. É uma grande escola de democracia e de formação pessoal para as causas coletivas. É o trampolim para outros voos. Mas, claro, há sempre muito por fazer.

Tive nestes dias a oportunidade de andar pelo interior do país, por concelhos de Viseu, Guarda e Viana do Castelo, distritos particularmente atingidos pela emigração. Participei em diversas iniciativas de campanha com candidatos que generosamente acreditam que é possível fazer mais e melhor pelas suas terras e pelas suas gentes. E é sempre preciso acreditar e nunca ceder às influências nocivas daquelas que querem desvalorizar tudo, diminuir ou desvirtuar os esforços que os outros fazem pelo bem comum. Hoje e sempre, lutar por um bem comum, com valores e princípios, abraçar causas, é mais importante que nunca, como forma de derrotar aqueles, os extremistas desta vida, que se dedicam a atacar a democracia e as suas instituições, a pôr tudo em causa para provocar a descrença.

De bandeira em punho distribuindo folhetos com as propostas para melhorar as terras, os candidatos fazem os seus porta-a-porta por todos os lugares. Muitos deles bem no interior do país, com lugares tantas vezes tão inacessíveis, como a Várzea de Meruge (na foto acima), em Seia, que até nos esquecemos que também ali continua a haver gente. Gente que precisa que se lembrem deles, que lhes resolvam os problemas, gente que precisa de ter mais gente à sua volta.

E dá gosto ver como muitas vezes é a esperança que vêm quando os candidatos lhes batem à porta, que as leva a acreditar numa mudança. E é essa a obrigação de sempre dos políticos. Fazer um trabalho de proximidade, fazer as pessoas acreditar e trabalhar para que os compromissos se concretizem. Alegra ver tantas mulheres e tantos jovens a participar na política. Numa iniciativa na Freguesia de Santa Comba Dão uma jovem dizia orgulhosa: “Somos 60 por cento de mulheres na nossa lista”. E o mesmo vi em Marco de Canaveses, Valença ou Vouzela.

O interior, muito particularmente, está bastante desvitalizado. Fazem-se porta-a-porta em alguns lugares e verifica-se com tristeza que só uma pessoa em cada seis ou sete habitações responde. O despovoamento do país, das freguesias em cada concelho é uma realidade que não pode ser ignorada. O poder político tem de fazer aquilo que nunca foi feito para inverter este processo dramático de despovoamento, que aos poucos vai esvaziando as terras, tornando-as cada vez mais difíceis de habitar, condenadas a um isolamento e a uma solidão cada vez maior.

E percebe-se claramente como o interior está intrínseca e inequivocamente ligado à emigração. Não há aldeia do interior que não tenha gente sua no estrangeiro, nem que tenha acolhido de novo muitos daqueles que no passado partiram. E por isso, cada município deve olhar de maneira muito séria para esta realidade.

Vale a pena lutar por um país melhor, por terras com gente, com empresas que se fixam e geram empregos e riqueza. Vale a pena lutar por um país mais equilibrado entre o litoral e o interior. Mas é preciso agir como nunca se agiu. Repovoar o interior com serviços públicos e investimentos massivos. Criar atrativos poderosos que convençam as pessoas a deixarem as grandes cidades. Dar vida ao interior é tornar o país e a democracia mais fortes. É dar uma esperança verdadeira num futuro melhor.

Paulo Pisco

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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