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António Guterres nas Nações Unidas

Está lançada a recandidatura de António Guterres a um novo mandato como Secretário-Geral das Nações Unidas, a mais importante organização multilateral do planeta. Tal como aconteceu da primeira vez, esta é uma candidatura que une o país, mobiliza a nossa diplomacia e nos enche a todos de orgulho, como referiu o Primeiro-Ministro, António Costa, na formalização do apoio do Governo à sua recandidatura.

António Guterres é um humanista e, obviamente, é com esses valores que tem liderado as Nações Unidas, tal como já acontecera quando foi eleito Alto Comissário para os Refugiados.

Nunca esquecerei o dia 24 de maio de 2005 quando António Guterres recebeu uma chamada das Nações Unidas a anunciar que a sua candidatura fora escolhida para Alto Comissário para os Refugiados. Estava António Guterres, o meu querido amigo José Lello que então era Secretário Internacional do PS e eu, diretor do Departamento Internacional e de Comunidades. Estávamos no hall do aeroporto de Telavive, à conversa nos sofás, depois de uma série de reuniões em Telavive e em Ramallah muito intensas do Conselho da Internacional Socialista, de que Guterres era presidente.

De cada vez que se apresentou a um lugar nas Nações Unidas, António Guterres conquistou-o por mérito próprio, pela sua inteligência, pelos seus valores éticos, pela sua experiência política ao serviço de bem comum. E não podemos também esquecer o papel sempre fundamental que nestes processos tem a diplomacia portuguesa e a sua capacidade extraordinária para criar pontes.

Durante este seu mandato, António Guterres enfrentou desafios enormes. Desde logo o da reforma das Nações Unidas, tarefa sempre tão difícil, mas absolutamente necessária, muito particularmente o Conselho de Segurança, que precisa de rever o número dos seus membros permanentes e o direito de veto, que tantas vezes tem sido usado de forma perversa, levando a que muitos conflitos se eternizem, como é o infeliz exemplo da guerra civil na Síria.

É claro que a reforma do Conselho de Segurança parece uma missão quase impossível, mas não se pode desistir de fazer aquilo que está certo, que é reformar um sistema que saiu da Segunda Guerra Mundial, num contexto particular, há 75 anos.

Estes cinco anos de mandato foram particularmente difíceis devido à emergência dos nacionalismos, do isolacionismo e do protecionismo, contrários ao espírito de diálogo e cooperação inerente ao multilateralismo. Além disso, as Nações Unidas tiveram de suportar as investidas deploráveis de Donald Trump, que reduziu apoios e procurou enfraquecer a instituição e as suas agências, como a Organização Mundial de Saúde.

A verdade é que não existe instrumento mais eficaz do que o multilateralismo, particularmente através das Nações Unidas e das suas agências, para apaziguar tensões e evitar conflitos no mundo, para defender os Direitos Humanos e o Estado de Direito, no combate às alterações climáticas, à pandemia, à pobreza e às desigualdades, na defesa dos oceanos, um tema tão caro a Portugal.

Como afirmou num recente debate na Assembleia da República o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, ao longo do seu mandato António Guterres foi uma consciência moral da humanidade, identificando sempre as questões essenciais para a sua sobrevivência.

Por isso, António Guterres merece ser reconduzido para um segundo mandato, que terá início em janeiro de 2022, que certamente desempenhará como o mesmo espírito de urgência como o fez neste mandato.

Paulo Pisco

Deputado do PS

 

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