Angolana representa Reino Unido na Bienal de Veneza
A artista multidisciplinar angolana Sandra Poulson está entre seis artistas escolhidos para o pavilhão do Reino Unido na Bienal de Veneza, que abre no sábado, participando com uma obra intitulada “Sabão Azul e Água”.
A obra é composta por quatro objetos: um tanque de lavar a roupa, uma balaustrada da era colonial, um vestido de mulher rendado e moldes de pegadas humanas.
O conjunto foi todo pintado de azul, com uma solução que inclui sabão produzido em Luanda, um produto de limpeza ao qual a artista atribui um significado mais amplo e complexo, com ramificações ao período colonial.
Na origem deste trabalho está uma reflexão sobre a bisavó da artista, que sustentava a família a lavar roupa para portugueses, revelou Poulson à agência Lusa, razão pela qual incluiu na obra o tanque de lavar a roupa à mão.
Os outros elementos são uma balaustrada, uma referência às varandas tradicionais coloniais portuguesas, e um vestido feito de “pano da costa”, um tecido branco com bordado que era usado como uma moeda de troca entre comerciantes portugueses e angolanos.
“Esta obra pensa muito nessa relação entre as várias pessoas da sociedade que ainda estão a processar esse processo de ter perdido alguma coisa, mas que também se identificam naturalmente com aquilo que foi imposto e que foi transmitido pela ocupação portuguesa”, explicou.
A artista recordou como o sabão, tradicionalmente um produto de limpeza barato, acessível e disseminado no país para lavar roupa ou tomar banho, foi usado a certa altura para o tráfico ilegal de diamantes.
“A primeira vez que tentei transportar uma barra de sabão de Luanda para Lisboa fui parada na imigração angolana e questionada. Pediram-me para nunca mais ter uma barra de sabão na minha bagagem de mão”, confiou.
A instalação artística, resumiu, tenta usar todas estas relações para “fazer perguntas sobre como andamos daqui e pensamos juntos quando a sociedade angolana tem tantos pontos de referência que são herdados do colonialismo”.
Sandra Poulson, de 28 anos, vive e trabalha entre Luanda, onde cresceu, e Londres, para onde se mudou em 2014 para estudar inicialmente Moda no London College of Fashion, acabando por concluir a licenciatura em ‘Fashion Print’ na universidade Central Saint Martins.
Desde 2018 que tem participado em exposições coletivas em galerias e feiras de arte no Reino Unido, Suíça, Espanha, Nigéria, África do Sul, e ganhou vários prémios para artistas emergentes.
A participação da angolana no pavilhão britânico foi feita a convite dos curadores Jayden Ali, Joseph Henry, Meneesha Kellay e Sumitra Upham, na sequência de uma exposição individual de Poulson realizada no ano passado em Londres intitulada “Economy of the Dust”.
Os outros artistas que também fazem parte do pavilhão britânico, que tem por tema “Dancing Before the Moon”, são Yussef Agbo-Ola, Madhav Kidao, Mac Collins, Shawanda Corbett e Jayden Ali.
A Bienal de Arquitetura de Veneza 2023 tem lugar no Palácio Franchetti, em Veneza, entre 20 de maio e 26 de novembro.
A 18.ª Exposição Internacional de Arquitetura tem como título “O Laboratório do Futuro” e foi programada pela curadora Lesley Lokko.
A bienal conta com representações oficiais de 63 países, sendo Portugal e Brasil os únicos lusófonos presentes, mas entre os 89 arquitetos e gabinetes de arquitetura, na maioria de África e da diáspora africana, estão o Banga Colectivo, gabinete de arquitetura de Luanda e Lisboa, e o ateliê brasileiro Cartografia Negra.
O pavilhão do Vaticano na Bienal de Arquitetura de Veneza tem como comissário o cardeal Tolentino de Mendonça e contará uma instalação do arquiteto Álvaro Siza.