Alemanha: vereador lusodescendente quer imigração regulada, controlada e integrada
O lusodescendente Paulo Pinto, membro ativo da Alternativa para a Alemanha (AfD, extrema-direita alemã) em Euskirchen, nega que o partido seja racista ou xenófobo, assumindo a defesa de uma “política de imigração regulada e controlada”.
“Se o partido estivesse contra os estrangeiros, eu não era da AfD”, afirma Paulo Pinto. Os pais deixaram Lamego nos anos 70 para procurar uma vida melhor na Alemanha. Mudaram-se para Euskirchen, uma cidade no estado da Renânia do Norte-Vestefália, onde a família cresceu.
Está há vários anos envolvido na vida política. É, há mais de uma década, vereador na Câmara Municipal de Euskirchen. Em 2008 inscreveu-se na União Democrata-Cristã (CDU), antigo partido de Angela Merkel, mas em 2022, descontente com o rumo desta força política, decidiu mudar para a AfD.
“Apoio a AfD porque acredito firmemente nos princípios do Estado de direito, da soberania nacional e da liberdade do indivíduo. A AfD representa uma política clara e conservadora que defende estes valores”, sustentou à Lusa.
Para Paulo Pinto, o maior problema que a Alemanha enfrenta atualmente é a “imigração descontrolada de requerentes de asilo e os desafios de integração” e a AfD responde a esse problema.
“É importante que os imigrantes qualificados e não qualificados que estejam dispostos a integrar-se e a dar um contributo positivo para a sociedade sejam bem-vindos. Uma política de imigração regulada e controlada pode garantir que as necessidades do nosso mercado de trabalho são satisfeitas, preservando simultaneamente os valores sociais e culturais da Alemanha”, frisou.
Uma investigação do consórcio de jornalistas Correctiv deu conta de uma reunião em novembro do ano passado, em Potsdam, onde foi discutida a deportação em massa de refugiados políticos, cidadãos estrangeiros com visto de residência, e cidadãos alemães “não assimilados”. Neste encontro estariam vários membros da AfD.
A informação levou milhões de pessoas às ruas em toda a Alemanha para pedir o fim da extrema-direita. A AfD negou qualquer plano de deportação, tentando distanciar-se da polémica.
Paulo Pinto admite que podem existir membros do partido que se “descontrolam”, mas isso não deve definir as linhas da AfD, que não é racista, nem xenófoba, garante.
“Discordo da opinião de que nenhum migrante deve ser bem-vindo na Alemanha (…) Uma política de imigração regulada e controlada pode garantir que as necessidades do nosso mercado de trabalho sejam satisfeitas, preservando simultaneamente os valores sociais e culturais da Alemanha. A integração é, antes de mais, da responsabilidade dos imigrantes, que devem integrar-se numa sociedade que lhes seja adequada”, apontou.
Quando confrontado com a escolha da AfD, principalmente sendo filho de imigrantes, Paulo Pinto tenta explicar que as suas raízes lhe deram uma “perspetiva valiosa sobre a importância da integração e do intercâmbio cultural”, algo que, acredita, a Alternativa para a Alemanha respeita.
A AfD defende, nas palavras da co-líder Alice Weidel, uma “Europa de pátrias”, uma “redução dos poderes de Bruxelas” e o “reforço dos Estados-nação”, assim como a construção de uma “Europa fortaleza”.
“Não queremos sair da Europa”, referiu Paulo Pinto, “o problema que temos é o excesso de burocracia e dependência de Bruxelas e Estrasburgo”, adiantou. “Unidade sim, mas um país também deve olhar e fazer por si mesmo”, acrescentou.