O Campo de São Francisco, em Ponta Delgada, Açores, tem de volta a azáfama dos preparativos das festas do Santo Cristo, dois anos suspensas devido à pandemia, enquanto o comércio se prepara para uma grande afluência de visitantes.
Por estes dias, eletricistas e carpinteiros, profissionais ou amadores, desdobram-se na preparação das festas e iluminações do Santo Cristo, no Santuário da Esperança e zonas circundantes.
Durante 10 anos, Pedro Silva sempre “tirou férias” para ajudar na montagem da iluminação, um trabalho “suspenso” devido à covid-19.
“A pandemia não nos deixou fazer nada. Estivemos sem as Festas do Santo Cristo. Era habitual vir ajudar na montagem das luzes. Agora voltei. É uma alegria e isto é também importante a nível financeiro”, contou à agência Lusa.
As festividades do Senhor Santo Cristo dos Milagres, consideradas a segunda maior manifestação religiosa do país depois das peregrinações a Fátima, levam anualmente milhares de peregrinos de todo o mundo até à ilha de São Miguel, oriundos das nove ilhas dos Açores, do continente, assim como dos Estado Unidos da América e do Canadá.
Devido à pandemia de covid-19, as festas estiveram suspensas nos últimos dois anos e são retomadas este ano.
Nas imediações do Santuário da Esperança, num estabelecimento comercial que se dedica à venda de lembranças dos Açores, Filipa Costa, funcionária, recebe artigos novos.
Sem mãos a medir para atender um grupo de turistas, Filipa Costa assegurou que há “mais clientes”, o que pode ainda aumentar com as festas do Santo Cristo.
“Esperemos que corram bem. Este ano vamos ter as nossas festas do Santo Cristo”, disse à Lusa.
Ao balcão de loja de venda de artesanato dos Açores e lembranças do Santo Cristo, Rui Miguel disse que as expetativas são sempre boas, ao fim de dois anos sem festividades.
“Foram muitas as quebras. Pelo menos, foi decidido que vai haver a festa. Já é muito bom. É esperar que tudo corra bem”, salientou.
Expectativas semelhantes tem Joana Correia, funcionária de um restaurante, para quem “já se nota que tudo está a voltar ao normal”.
“Penso que a realização das festas vai ser uma grande ajuda para o negócio. Estes dois anos de pandemia trouxeram muita quebra na faturação”, considerou.
O santuário, onde se venera a imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, está localizado no Convento da Esperança, no Campo de São Francisco.
Mesmo junto ao santuário, um grupo de turistas do continente ouve com atenção o guia sobre a devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.
“Acabamos de chegar. Sou de Amarante e já ouvi muito falar da devoção ao Santo Cristo”, disse Joaquim Pinto, à Lusa, contemplando a fachada do santuário.
Num passo apressado, em direção à igreja, Joaquim Andrade, residente em Ponta Delgada, manifestou a alegria porque “o Senhor vai voltar a sair à rua”, em procissão.
“Podemos vir à igreja ver o Senhor, mas era preciso ver sair o Santo Cristo à rua, para nos dar uma ajuda nestas doenças que estão por aí”, disse.
Sentada num banco no Campo de São Francisco Mónica Nunes, natural da ilha do Faial, mas residente em São Miguel desde 2014, confessou estar “comovida”.
“É um sentimento de alegria. Vim agora da igreja de ver o Senhor. Mas vê-lo na rua na procissão é uma alegria. É sempre tão bom este reencontro”, frisou.
Já Alda Arruda, residente no concelho de Vila Franca do Campo, assumiu que não estava todos os anos nas festas, mas “sempre que podia” deslocava-se até Ponta Delgada.
“É sempre tão bom saber que as festas do Santo Cristo se voltam a realizar”, afirmou.
Um dos momentos mais aguardados da festa é a procissão de domingo (este ano no dia 22 de maio), que começou por iniciativa da madre Teresa D’Anunciada. A freira introduziu o culto ao Santo Cristo, cuja imagem só deixa o convento uma vez por ano, no quinto domingo após a Páscoa.
A procissão de domingo percorre as ruas da cidade com a imagem do “Ecce Homo”, oferecida às freiras Clarissas pelo papa Paulo III.
No dia antes, na manhã de sábado, centenas de devotos percorrem de joelhos o Campo de São Francisco, em pagamento de promessas, seguindo-se, à tarde a procissão da Mudança da Imagem, em redor do Campo de São Francisco.
Este ano, as festas voltam a realizar-se entre 20 e 26 de maio.