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A transformação da comunidade portuguesa no Luxemburgo

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Há uma transformação em profundidade que se está a operar com a comunidade portuguesa no Grão-Ducado do Luxemburgo. O país é pequeno, com uma população de apenas 660 mil habitantes, mas muito importante para Portugal. E é importante não apenas por ser o mais rico do mundo, mas também porque os portugueses representam 16 por cento da população total e cerca de 25 por cento dos alunos nos primeiros anos de escolaridade. Está enraizada em toda a sociedade e cada vez mais ativa politicamente, como fica demonstrado pela participação de 114 candidatos, alguns lusófonos, e a eleição de cerca de 60 para conselheiros, vereadores e burgomestres, numa dimensão inédita.

Numa altura em que os partidos já estão no terreno a apelar à participação nas eleições legislativas de 8 de outubro, é da maior importância que todos os que se envolveram nas comunais de 11 de junho mantenham o ritmo de entrega cívica e política, como forma de afirmação de toda a comunidade pela cidadania.

Nunca houve tantos candidatos e eleitos portugueses e lusófonos como nas últimas eleições locais. Cinco luso-luxemburgueses foram inclusivamente os mais votados, embora apenas dois acabassem por assumir as funções de burgomestre. Um deles é Louis Pinto, da Comuna de Lintgen, natural de Santo Tirso, e outro, em Bous Waldebrimos, António Araújo, filho de pais oriundos de Braga, que subiu por desistência do candidato mais votado. São estes os primeiros burgomestres de origem portuguesa na História do Luxemburgo, merecendo também referência Félix Braz, filho de pais algarvios, que foi vice-primeiro-ministro entre 2018 e 2019, tendo agora a sua filha, Liz Braz, sido eleita em Esch-sur-Alzette e candidata às eleições legislativas de outubro.

Nas últimas eleições de 2017 só José Vaz do Rio tinha sido o mais votado, em Bettendorf que, num gesto de humildade, recusou assumir o cargo de Burgomestre por não dominar o luxemburguês, língua em que decorrem as reuniões e são feitas todas as diligências administrativas. Entretanto, lançou-se a aprender o luxemburguês, voltou a ser o mais votado, mas os arranjos políticos no Conselho Comunal ditaram que ficasse de fora.

Os candidatos portugueses trabalharam imenso, porque sabem que tem de ser assim para poderem vencer. Fazem-no com toda a humildade que caracteriza os portugueses.

Como os exemplos atrás referidos há muitos outros, como Kevin Oliveira, em Koerich, ou Antónia Afonso, uma portuguesa de origem guineense que foi eleita na Cidade do Luxemburgo contra todas as expectativas, que já se lançou na aprendizagem do luxemburguês, para superar essa lacuna. Merece referência também Hugo Costa, que foi o mais jovem conselheiro eleito, em Betzdorf, com apenas 18 anos, ou Bruno Cavaleiro, reeleito em Esch-sur-Alzette. São eles e muitos outros que agora pavimentam o caminho do exemplo da dedicação e empenho cívico para poderem discutir em pé de igualdade assuntos de interesse geral, pelo bem comum de uma sociedade mais coesa.

Esta humildade que caracteriza os portugueses é o que tem permitido que eles façam no Grão-Ducado o seu caminho, serenamente, no respeito pelas regras do jogo do Luxemburgo, mas sem renegarem as suas raízes. Porque jamais a identidade portuguesa, onde quer que exista, se afirma contra quem quer que seja, o que constitui o nosso maior soft power.

Todos estes e os outros candidatos e eleitos são merecedores de admiração, pelo que representam de exemplo para o resto da comunidade. Mas merecem também admiração os partidos políticos e a sociedade multicultural luxemburguesa, ciente que tem de colmatar o défice democrático existente por uma grande parte dos cerca de 47 por cento da população total ser estrangeira e estar fora dos mecanismos de decisão política, dando provas concretas dessa vontade, designadamente através de referendos e legislação que facilita o acesso à nacionalidade para que possam votar. E, neste contexto, merecem uma referência especial os socialistas do LSAP, que foi o partido que incluiu mais estrangeiros em geral e portugueses e lusófonos em particular.

Todos estes progressos, a par da determinação do Luxemburgo em ter Portugal como um dos seus principais parceiros na cooperação bilateral em domínios que vão da segurança social ao aeroespacial, inegavelmente devido à importância da comunidade portuguesa, merece também da parte do nosso país uma atenção muito especial e uma prioridade inequívoca em termos diplomáticos.

Deputado do PS

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