1. Uma das magias das declarações do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa foi que o medo foi/é tal de “nos irem ao bolso” que de repente ficou tudo a favor da devolução das obras de arte. Fiquem lá com os vossos “artefactos”, mas tenham cuidadinho onde os metem, é porque nós temos isto tudo bem arrumadinho nuns armazéns a apanhar um pó especial conservador de alta qualidade. E só damos se os países pedirem, esses mesmos países que têm tanto medo de se zangarem connosco porque #colonialismisnotdead.
2. Outra consequência mágica do medo de “nos irem ao bolso” e que não dá para pagar porque é muito caro, são biliões e tal, é finalmente admitirem de forma unânime que sim o prejuízo para os povos colonizados e o benefício para os colonizadores foi imenso.
3. Pedido de justiça não é vingança, se fosse o pessoal andava por aí a cortar cabeças, a violar pessoas, matar, roubar, etc. Ai espera, o outro amigo da nação com grande reputação é que foi várias vezes condenado por violência e agora por incitação à violação. O Bruno Candé é que foi assassinado, a Cláudia Simões é que foi violentada, muitas e muitos ativistas antirracistas é que sofremos ameaças de morte, de violação e de sermos queimadas vivas, pessoas imigrantes é que estão a ser atacadas…
4. Este não é um tema de “gente jovem” woke (e já agora pergunto porque é que a RTP decidiu escrever a palavra woke com maiúscula?). O PR é jovem? O direito internacional é jovem? Os abolicionistas africanos de há séculos são jovens?
5. “Eu escrevi um livro”, “eu li um livro”, eu, eu, eu… quando é que o JPM entende que isto não é sobre ele, como tão bem lhe disse várias vezes a mana Cristina? E, como quer que o levemos a sério quando hoje, num debate televisivo, é capaz de utilizar com toda a convicção argumentos tão extravagantes como já reparámos o crime da Escravatura porque o cessámos e porque nos custou muito parar, que podemos resumir a (e a comparação é minha) “se um homem parar de bater numa mulher isto já é reparação do crime, e a mulher só tem é de agradecer, até porque custou muito ao macho parar de bater”. Quando se diz que não se pode olhar com os olhos do presente o passado…. Então que olhos são os de JPM?
6. A História nos manuais escolares, nos livros e nas bocas destas pessoas é militante, é sempre militante, é sempre fruto de escolhas. Não adianta atirar com o “vocês são ativistas” para descredibilizar a palavra de quem trabalha seriamente nestas questões, e que justamente quer contar a história toda!
7. Como é que se pode levar a sério historiadores que fazem de conta que não existe um processo, que defendem que a História são gavetas independentes? Não chegámos até aqui por acaso, como é obvio o trabalho forçado é continuidade da Escravatura, etc. como bem disse o Francisco Bethencourt.
Luísa Semedo