A importância da integração cultural: reflexões de um português no Reino Unido
Faço parte da diáspora portuguesa no Reino Unido há mais de dez anos, e esta experiência tem contribuído para alargar os meus horizontes e constatar a mais-valia que é para um país e para um povo interagir com novas culturas e nacionalidades.
A interação com novas culturas enriquece os países de acolhimento, não só porque são capazes de enfrentar medos e dogmas, mas também porque enriquece o conhecimento, a gastronomia, a música, a cultura, as artes e até o desporto. Principalmente, transforma os “nativos” dos países de acolhimento em Cidadãos do Mundo.
É natural que, ao nascermos num país, tenhamos o sentimento de termos mais direitos do que os imigrantes. Recordo-me bem de sentir o mesmo, mas este sentimento está correto?
Por exemplo, se um vianense ou algarvio decidir viver em Braga, tem menos direitos do que um bracarense? Eu penso que não.
Então, por que um imigrante que decidiu viver em Portugal deveria ser diferente? Ou mesmo eu, que nasci em Portugal e decidi, aos 35 anos, seguir o sonho de ter uma experiência de cidadania internacional, devo sentir-me com menos direitos do que os britânicos?
O sucesso da imigração num país é a integração, ou seja, aprender a língua, a cultura e os costumes do país de acolhimento. Mas é também fundamental que o conceito de integração seja bidirecional, ou seja, que o país de acolhimento respeite a cultura, a língua e os costumes de quem decide mudar a sua residência. No Reino Unido, senti-me mais integrado quando a minha filha nasceu e, no hospital de Oxford, havia um panfleto com a frase: “Em sua casa fale a sua língua nativa.” Ou seja, ‘tu és um de nós’ e esta é a tua casa, mas também percebemos que as tuas origens, língua, costumes e culturas são diferentes e nós respeitamos-te.
A imigração traz consigo muitos desafios que obrigam a uma alteração do paradigma. Mesmo que Portugal esteja no top 10 do Índice das Políticas de Integração de Migrantes 2020, é preciso que nas escolas sejam dados os recursos para que crianças com diversos idiomas tenham as condições de alcançar sucesso escolar, mesmo que o apoio dos pais seja mais dificultado.
É fundamental criar serviços de orientação e apoio à aprendizagem do português, assim como promover eventos que celebrem as diversas culturas, para que este cruzamento proporcione a integração e a inclusão, evitando a xenofobia, a exclusão, a radicalização e as narrativas de “nós contra eles”. Promover o respeito mútuo e fomentar o sentimento de pertença dos imigrantes é crucial.Para que a integração seja plena, a democracia em todo o mundo precisa de dar um passo em frente. Todos os imigrantes com cinco anos de residência deveriam votar, pois se não podem, a plenitude da sua Cidadania está diminuída. Os imigrantes, desta forma, estão vulneráveis e sem voz. Cidadania, Integração e Inclusão são o segredo de termos Comunidades com Futuro.
Tiago Corais