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Valha-nos D. Dinis

No momento em que Portugal bate recordes pelo número de incêndios deflagrados, mortes e área ardida, o ministro da Agricultura disse que “o Governo fez a maior revolução que a floresta conheceu, desde os tempos de D. Dinis”. Consta que Capoulas Santos, primoroso republicano, não se pronunciou assim à conta do Pinhal de Leiria, que valeu ao monarca o cognome de Rei Lavrador. Ter-se-á inspirado na faceta do Rei Poeta, desta forma também chamado pelos dotes de trovador, versado que foi nas Cantigas de Amigo e sátira. Outra coisa não se compreenderia.

O que está a acontecer nas florestas portuguesas é trágico. Mas na matéria, convenhamos, temos um dos governos mais impreparados desde o 25 de Abril.

Capoulas Santos vangloriou-se pela aprovação de “10 dos 12 diplomas sobre a floresta”, num conjunto de medidas “contra lóbis, comentadores e cientistas”. Significa que numa área eminentemente técnica, se permite repudiar e depreciar o contributo que só a comunidade científica, que detém o conhecimento, pode dar. É assustador. Pior, orgulha-se do facto. De qualquer modo, não disfarça que a estratégia do Governo, que agora explica muito do fracasso, tenha sido por si assumida há exatamente um ano, em entrevista ao “Expresso”. Disse assim: “Não há prevenção possível perante um tão elevado número de ignições, que só podem ter origem criminosa ou negligente, daí que a maior parte do orçamento esteja alocado ao combate e não à prevenção”.

ignifica, como confessado, que o Governo rejeitou o adágio popular que ensina que “no prevenir é que está o ganho”. Ficou-se essencialmente pelo combate. Alterou lideranças na Proteção Civil e nomeou pessoas contra pareceres. Manteve no chão helicópteros Kamov, obsoletos, que num outro Governo António Costa quis comprar. E lida com as falhas no SIRESP, que nesse mesmo Governo quis negociar.

Igualmente grave, o Governo tem metido na gaveta milhares de projetos fundamentais à limpeza capaz da floresta e ao bom ordenamento do território. Dos milhões de euros do PDR 2020, disponibilizados por Bruxelas para o setor, apenas 11,86% do montante foi utilizado. Não tem perdão.

Esta semana, o Colégio de São Fiel, construído na serra da Gardunha, prestigiado pela história e notável no património, acaba de sucumbir às chamas, nas mãos do Estado que tinha a obrigação da sua salvaguarda, depois do definhamento imposto após a ocupação decidida durante a I República. O que seria, se o Governo não tivesse feito a maior revolução que a floresta conheceu, desde os tempos de D. Dinis.

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