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Só voltarei a falar de fogos florestais em 2018

© Pixabay

Infelizmente todos voltaremos a falar de fogos florestais no futuro, porque agora vai tudo de férias, nomear-se-ão entretanto comissões de inquérito, será produzida meia dúzia de legislação avulsa e inconsequente, far-se-ão homenagens às vítimas da tragédia e ficará tudo na mesma.

E decidi acabar este tema por agora, não porque não me revolte e não me interesse, mas apenas porque andamos todos a brincar uns com os outros, e essencialmente a sacudir a água do capote! E mais uma vez, um assunto que diz respeito a todos os portugueses, que provoca vítimas e prejuízos todos os anos, sirva de ping pong entre o Governo e a Oposição, independentemente de quem seja governo ou oposição na altura das tragédias.

A Oposição de hoje, anteriormente Governo, acusa como se não tivesse havido fogos e vítimas enquanto governou.

O Governo atual defende-se dizendo que está a promover inquéritos, averiguações, comissões, de forma a que a culpa morra solteira.

E nas redes sociais leio coisas tão magníficas como “António Costa não tem culpa porque não foi ele que ateou o incêndio”, ou então “no tempo do Durão Barroso foi pior”, ou melhor ainda “estou farto destes imbecis que aproveitam esta tragédia para atacar o Costa”, e finalmente “Foi uma coisa terrível, e onde acontecem coisas terríveis, as pessoas morrem”.

Eu imagino que António Costa não tenha colocado o fogo, da mesma maneira que não encheu o Mediterrâneo de água para os refugiados se afogarem, ou seja culpado do atropelamento nas estradas porque até tem motorista!

A desculpabilização pelos erros dos outros, é jogo em que não entro, senão vamos discutir se Hitler é mais ou menos assassino que Estaline, e lá porque um é pior, não transforma o outro num santo nem justifica os seus crimes.

A desculpa baseada no fatalismo, no facto de ser normal as pessoas morrer em fogos e afogarem-se nas praias, também não me entra quando pagamos impostos, até pagamos impostos por aqueles que infelizmente não os podem pagar, e que devíamos ter um sistema de protecção das pessoas que evitasse que 47 delas morram num pequeno pedaço de uma estrada nacional. E temos sistemas de protecção que não funcionam nem em diversos locais de Lisboa, que estão 14 horas paralisados em situação de máxima emergência, e que custaram 500 milhões de Euros e cuja empresa que gere o SIRESP, distribuiu mais de 6 milhões de Euros de lucro pelos seus accionistas no ano passado. E se estiverem atentos ao desenrolar do negócio ao longos dos anos, se verificarem quem vendeu, quem comprou e quem decidiu, facilmente se aperceberão que o principal critério de adjudicação de algo que é coxo, foi o amiguismo.

Na verdade é mais fácil culpar os eucaliptos, principalmente quando não existe nenhum humano à mão de semear e que sirva de culpado. O pessoal das cidades gosta de culpar os eucaliptos e de defender os sobreiros, mesmo que os sobreiros na zona centro não sejam uma espécie autóctone e não sirvam para nada para a não ser impedir a rentabilização do espaço. Os eucaliptos dão emprego e um prato de sopa a centenas de milhares de pessoas e transformam o CO2 dos carros poluentes nas cidades em oxigénio. Infelizmente, ainda são os eucaliptos que vão mantendo as pessoas no interior, nomeadamente quando as finanças, os tribunais e as agências bancárias se foram embora…  e as pessoas aos poucos também se vão embora.

E claro que a culpa também é dos proprietários, essencialmente a culpa é dos proprietários que são uns porcalhões e não limpam as matas! Já Marx detestava os proprietários da terra, e esse ódio foi bem sintetizado por Rosa Luxemburgo que um dia achou que o socialismo era uma ciência matemática.

E quem são os proprietários das terras que ardem? Velhotes que possuem um terrenozinho, e cuja receita do terreno nem dá para pagar o esforço, quanto mais a limpeza da mata; terrenos abandonados, eventualmente propriedade de quem vive nas cidades; terrenos de pessoas que estão no Brasil ou em França; terrenos que nem sequer constam nos cadastros, tudo minifundios. Eu não sei se vocês sabem quanto é que custa limpar um terreno florestal com um hectare de tamanho… façam uma pesquisa no Google, e depois deixem-se de exigir utopias aos outros.

Curiosamente, não ouço falar de cadastros digitais, georreferenciação, emparcelamentos, promoção de associações de produtores florestais! Isso não interessa para nada quando se trata de sacudir a água do capote. Muito menos se fala em propriedade florestal porque isso mexe com votos!

Finalizando: a culpa pode ser tanto do Costa como do Passos, como do Guterres ou do Salazar, e o que estamos a assistir é a um jogo mediático aproveitando e criando sensações! Mas de facto existe uma responsabilidade ou irresponsabilidade ideológica e política, que ao se assobiar para o lado, darão continuidade a incêndios, vítimas, injustiças, esgrimas partidárias, e sempre mais do mesmo.

A sério pá… por mim estou farto do mais do mesmo, são dezenas de anos assim, nem sequer vou responder a comentários porque já nada mais tenho para acrescentar.

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