De que está à procura ?

Colunistas

Ruiva

Hoje queria escrever um poema
sobre uns cabelos desalinhados
de uma ruiva nua
nos meus lençóis,
mas fogem-me os adjectivos,
cegam-me os sentidos
as memórias turvas e tristes
do amor que recusei
numa manhã de abril
porque fui cobarde.

Nunca grites ao universo que tens sede,
que ele, que é infinito e variável ao mesmo tempo
de medidas certas nada sabe
e encher-te-á as goelas
com um oceano.

O poeta (esse irremediável fantoche!)
canta a beleza, a paixão, a maldição,
mas quando ela lhe acordou a mecânica do coração
fugiu com a alma entre as pernas,
ele e a sua literatura talvez tivessem salvação
se em vez de amor tivesse sido apenas um broche.

Se fosse um bom poeta
teria queimado todos os
seus delicados papéis –
apenas textos ranhosos –
numa pira de alegria e
teria dançado em volta
até cair ébrio sobre as cinzas
do seu desengano.

Olha, vai-te foder e muda o título,
só com uma boa foda vais lá,
uma queca está mais perto da epifania
que qualquer aula de Filosofia.

Pronto, eis, este é o meu sangue
horrível mas verdadeiro,
negro, sujo, espesso,
que doo aos meus fiéis
para remissão dos meus pecados.

Mais uma declaração tonitruante!,
que não vale nada.
E, no entanto, sou eu
que crio o purgatório,
o caos e o cosmos.

JLC12042018

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA