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#poesiaarteemportugues: Eugénio de Andrade

Aproxima-se o Dia Mundial da Poesia e não queremos deixar de o comemorar consigo. Venha connosco num roteiro pela poesia portuguesa e por alguns dos seus maiores poetas. Deixemo-nos encantar por este nosso património inconfundível.

Por: Patrícia Barata

 

Poema V

“Juventude” de Eugénio de Andrade

 

Sim, eu conheço, eu amo ainda

esse rumor abrindo, luz molhada,

rosa branca. Não, não é solidão,

nem frio, nem boca aprisionada.

Não é pedra nem espessura.

É juventude. Juventude ou claridade.

É um azul puríssimo, propagado,

isento de peso e crueldade.

 

in Até Amanhã, 1956

 

Eugénio de Andrade (1923-2005)

Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas é um poeta, escritor, tradutor e antologista português.

É um dos poetas portugueses mais lidos e traduzidos (inclusivamente na China), e meritoriamente reconhecido como um dos maiores poetas do Séc. XX.

Estreou-se, em 1939, com uma plaqueta intitulada Narciso, assinando ainda como José Fontinhas. Após 3 anos, em 1942, publicou o livro de versos Adolescente já com o pseudónimo. Contudo tanto Adolescente como Pureza, publicado em 1945, serão renegados pelo poeta. Só anos mais tarde, em 1977, Eugénio de Andrade recuperará alguns dos poemas desses livros, designando-os “Primeiros Poemas”. A sua consagração ocorre, em 1948, com a publicação de As Mãos e os Frutos, que mereceu o reconhecimento de críticos como Jorge de Sena ou Vitorino Nemésio e é o mais reeditado dos seus livros.

A sua obra inclui inúmeros livros de poesia, entre os quais: Os amantes sem dinheiro (1950), As palavras interditas (1951), Escrita da Terra (1974), Matéria Solar (1980), Rente ao dizer (1992), Ofício da paciência (1994), O sal da língua (1995) e Os lugares do lume (1998).

Eugénio de Andrade foi ainda um talentoso prosador – publicou Rosto Precário (1979), Os Afluentes do Silêncio (1968) e À Sombra da Memória (1993) e escreveu livros destinados ao público infantil, como História da Égua Branca (1976) e Aquela Nuvem e Outras (1986).

Como tradutor, a sua bibliografia inclui, a título de exemplo, poemas e textos dramáticos de Federico García Lorca, uma tradução das Cartas Portuguesas (atribuídas a Mariana Alcoforado) (1969), uma edição de Poemas e Fragmentos (1974) da poetisa grega Safo, Dez Poemas de Yannis Ritsos (1978) e Trocar de Rosa (1980), que agrupa traduções de alguns poetas contemporâneos.

Eugénio de Andrade compôs ainda diversas antologias, várias com notável êxito editorial, como é exemplo a Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa (1999) e Poemas Portugueses para a Juventude (2002). A assinalar ainda as antologias dedicadas à poesia erótica portuguesa como Variações sobre um Corpo (1972) e Eros de Passagem. Poesia Erótica Contemporânea (1982) e ainda aquelas que dedicou a determinados territórios, quer cidades como regiões, cujos exemplos são: Daqui Houve Nome Portugal (1968), antologia consagrada à cidade do Porto; Memórias de Alegria (1971), antologia dedicada à cidade de Coimbra; ou ainda Alentejo não tem Sombra: Antologia de Poesia Contemporânea sobre o Alentejo (1982).

No livro Poesia, lançado em 2017 pela Assírio & Alvim, onde está reunida toda a sua obra poética, numa edição de 672 páginas que correspondem aos seus mais de 60 anos de vida literária, José Tolentino Mendonça, que prefacia a obra, diz o seguinte: “Já passou uma década do seu desaparecimento, e o tempo encarregar-se-á de revelá-lo, sempre mais decididamente, como um clássico da literatura portuguesa e europeia. Há que dizê-lo com as letras todas: Eugénio de Andrade revolucionou a nossa poesia”. E fê-lo através de um universo poético que o poeta nos apresentada assim: “fluir do tempo num jogo de luzes e de sombra; a ascensão e declínio de Eros, que não pode reduzir-se meramente à sexualidade; a descoberta do próprio rosto, entre os muitos que nos impõem; a dignificação do homem, num mundo mais empenhado em negar-lhe o corpo do que em negar-lhe a alma — preocupações maiores, ao que parece, da minha poesia, sem esquecer a face acolhedora e materna extensiva a tanta imagem de vida instintivamente feliz e aberta”.

O deslumbramento da sua poesia deve-se a tudo isso, intensificado pela expressão clara e viva das emoções e da musicalidade das palavras e dos silêncios.

Creio que foi o sorriso,

o sorriso foi quem abriu a porta.

Era um sorriso com muita luz

lá dentro, apetecia

entrar nele, tirar a roupa, ficar

nu dentro daquele sorriso.

Recebeu inúmeras distinções e prémios, entre as quais o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986), o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1989) e o Prémio Camões (2001).

Comemore Poesia, que é arte em português, com Eugénio de Andrade, sempre!

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