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Os domingos à tarde

Os domingos à tarde,

que costumávamos passar a fazer amor
misturando os nossos corpos insuspeitos e cadentes
deitando a nossa alma insustentável
no cobertor infinito das nossas promessas à flor da pele
maltratando as horas ciumentas e vis
que nos fitavam de soslaio do canto escuro do quarto da mansarda
e nós alheios a esses mecanismos
que teimam em dividir o dia mesmo se ele sempre nasce inteiro,

são indolentes sem ti
são cascas de noz vazias
que estalam na cova da minha mão
e me devolvem o eco fragmentado
dos teus passos no soalho velho do meu passado.

A sós, entregue à turba cruel
das minhas vozes que se amotinam,
deixo-as morderem-me os dedos, roerem a mordaça,
comerem o pano, cravarem-me os dentes nas jugulares
e destilarem-me veneno nas artérias.

Num gesto violento
faço um garrote à minha alma
aperto-o bem
dedilho a veia sediciosa
espeto a seringa
como uma lança de guerra
e injecto afecto no objecto cardíaco.

Sei que para salvar-te basta abraçar-te.
Mas quem me resgata a mim?

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