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O velho, o menino e o burro

Zuzana veio acompanhada pelo namorado, Marek. São um casal simpático, da República Checa. Apesar de Marek e eu trabalharmos na mesma companhia, não foi essa a razão pela qual o casal se encontrava na cozinha da casa onde estou a viver, num domingo ao fim da tarde.

Adam, o Polaco, que também vive na mesma casa, e que como eu, um outro Polaco, um Filipino, um Gaulês e uma Sul-Africana, partilhamos o mesmo teto, longe das nossas famílias, por razões relacionadas com o trabalho, lembrou-se, segundo as suas próprias palavras, de fazer um bolo tradicional do seu país.

Quando cumpria com os preceitos dominicais, nesse mesmo dia de manhã, encontrou-se com Zuzana e Marek à saída da igreja, que ambos frequentam, e fez-lhes o convite, para passarem lá por casa durante a tarde, para provarem da sua iguaria. Coragem não lhe faltou, uma vez que era a sua primeira tentativa a confecionar. ele mesmo, o bolo.

Amavelmente, fez-me o convite quando nos cruzámos no supermercado. Ele que estava prestes a entrar, e eu a sair. “This afternoon, after 3 o’clock, if you want to come downstairs to try the cake, you are more than welcome”. “Well” – respondi-lhe – “Probably I will be in my room doing my writing, but it will be my pleasure to join you, Zuzana and Marek”.

A escrita por vezes tem destas coisas. Está-se horas a tentar escrever um parágrafo, mas quando a coisa pega, a escrita torna-se como uma melodia, às vezes uma melodia que só cai bem no nosso próprio ouvido, há que admitir. Mas, no meu caso, isso pouco me importa, desde que atinja o estado em que já escrevo como se estivesse a tocar essa melodia num piano, então, é quando o tempo passa por mim e eu, porque fintei as leis da física, parei nele, e ele passou enquanto eu estive entretido com a minha escrita. Por isso, quando desci do quarto eram quase 5 da tarde. E só desci porque Adam, uma vez mais amavelmente, bateu na minha porta, desaparecendo logo de seguida, como quem me dá um sinal para me lembrar da promessa feita.

O bolo, estava uma maravilha. Para grande satisfação de Adam, todos gostaram da iguaria da Polónia.

Mas o bolo não foi mais nem menos do que um pretexto para uma convivência que se tornou bastante agradável. Desenrolou-se uma conversa interessante, durante umas horas. Abordaram-se alguns temas. Um pouco de política, religião, ciência, meditação. À conversa juntou-se pelo meio um pouco de humor também. Foi agradável.

Zuzana quis terminar a conversa com duas perguntas. Uma para Adam, e que tinha haver com algum político do seu país. A outra pergunta foi para mim. Quem é o presidente de Portugal e que acho eu acerca dele.

Respondi. “O presidente chama-se Marcelo Rebelo de Sousa, e na minha opinião é o presidente que Portugal deveria ter. É inteligente, tem personalidade, tem carisma e carácter, e é um político no verdadeiro sentido da palavra”.

So, the Portuguese people are happy with him”.

Para responder a Zuzana, repentinamente, veio-me à memoria uma história que o meu saudoso pai costumava contar, e que é uma história bem conhecida de muita gente. Quando estas histórias vão de boca em boca, sofrem sempre algumas alterações no conteúdo e na maneira de serem contadas, mas a moral da mesma mantém-se sempre inalterável.

Obviamente que tive que contar a história a Zuzana, Marek e Adam, em inglês, e isto porque nenhum deles fala português, nem eu falo checo, ou polaco.

The old man, the boy, and the donkey”. Há muitos anos atrás, um velho decidiu vender o seu burro. Para o vender tinha que ir a uma feira que se realizava uma vez por mês, numa aldeia distante da sua. Como voltaria sozinho, resolveu levar o neto consigo. Montaram os dois em cima do burro e lá foram satisfeitos da vida. Ao passarem a primeira aldeia, o velho ouviu comentários de algumas pessoas. “Coitado do burro” disseram, “que tem que carregar com estes dois marmanjos.” Quando deixavam a aldeia para trás, o velho decidiu descer do burro e deixou lá o rapaz. Mais à frente, umas velhas que lavavam a roupa num tanque público, ao verem-nos passar, começaram a dar cotoveladas umas nas outras e a comentar. “Onde já se viu. O menino que é novo e tem as pernas ainda frescas, vai sentado no burro, e o desgraçado do velho vai a pé”. O velho mandou o rapaz saltar do burro e sentou-se ele. Não se livrou dos comentários das pessoas que se cruzavam com eles logo a seguir. “Olha a lata do velho, vai ali todo espampanado e o menino tem que ir a pé. Explorador”. Então, o velho já nada satisfeito, saltou do burro e disse para o menino. “Vamos os dois a pé. Assim ninguém critica”. Enganou-se. Quando chegava à aldeia onde ia vender o burro, não faltaram os comentários. Algumas pessoas até gozavam com eles. “Olha-me estes… São mais burros que o burro. Têm um burro e vêm os dois a pé, com este calor”.

O velho e o menino, perceberam que não se pode agradar a todos, e faça-se o que se fizer, há sempre quem critique.

Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente de Portugal, não é uma exceção.

Zuzana, Marek e Adam perceberam a moral da historia, e pareceu-me que gostaram dela.

Quem sabe, algures na Polónia, e na Republica Checa, a história do velho, o menino e o burro, irá ser contada, para que a moral da mesma, que ao fim e ao cabo é universal, não se perca com o tempo.

 

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