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Não é do Porto, é da Murtosa

Quando era menino, havia na rua Marquês Sá da Bandeira, em Vila Nova de Gaia, lojinha que tudo vendia: desde artigos de papelaria, loiça de faiança, a vasos de barro vermelho.

Era proprietário o Sr. Costeira, o negociante mais honrado que conheci. Desde o largo dos Aviadores até ao jardim Soares dos Reis, não havia homem mais respeitado e honesto do que o modesto lojista.

Entrou, certa vez, meu pai no pequeno estabelecimento. Saudou o dono afavelmente, e quando lhe pedia resma de papel costaneira, recebe embrulhadinho de moedas.

Espantaram-se os olhos diante a insólita oferta. Estupefacto ficou meu pai, mirando alternadamente, as moedas de cobre e níquel.

Então o Sr. Costeira, de semblante risonho, pedindo mil desculpas, meio envergonhado, meio brincalhão, disse: – Sr. Pinho, sem querer, levei-lhe dinheiro a mais, na última compra. Aqui está o que é seu!

Era assim o Sr. Costeira. Profundamente crente, testemunhando a fé em Cristo, pela conduta exemplar.

Tinha o bom negociante estranho costume: se lhe pediam desconto, dizia, entre sorrisos: – Já tem o bicho cacau! Bicho cacau era o preço justo.

O tempo passou. Indo meu pai de viajem a Lisboa, teve que se deslocar à Costa do Sol. Entrou numa pastelaria na Parede, a fim de tomar  cafezinho.

Reparou o comerciante, pela pronúncia, que era do Norte, e ao inteirar-se que vivia no Porto, acrescentou, depreciativamente:

– Os negociantes dessa cidade são quase todos desonestos, a que meu pai tripeiro ferrenho, repostou, defendendo-se: – Depende!

E começou a contar que conhecia comerciante, honesto com poucos, narrando a cena das moedas guardadas pelo Sr. Costeira.

Ao escutar a palavra “ Costeira”, iluminou-se-lhe a boca de largos risos, interrompendo a narração de imediato:

– Mas esse não é do Porto! É da Murtosa!

Havia chegado ao Sul a honradez do Sr. Costeira. Perante o pasmo de meu pai e meu, que presenciava o episódio, rapidamente esclareceu:

– Os Costeiras são da Murtosa e conhecidos pela verticalidade e honradez. É boa gente!… mas não são do Porto!

 

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