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Microconto macrobiótico ficcionado sobre a Revolução de Abril

A soja é a base de toda a alimentação macrobiótica. Uma pessoa que seja macrobiótica apenas necessita, para sobreviver, de um quintalinho com uma plantação de soja e mais nada.

É um pouco como o milagre da multiplicação do pão, só que aqui devidamente adaptado à macrobiótica, na medida em que esta invenção chinesa do séc. XI a.C., da família das leguminosas e popularmente conhecida por feijão, dá para tudo, mas tudo mesmo, senão vejamos alguns exemplos: croquetes de soja, rissóis de soja, salsichas de soja, patê de soja, maionese de soja, caldeirada de feijão de soja, cozido de soja, ensopado de soja, sopa de soja, bolonhesa de soja, feijoada de soja, rancho de soja, risoto de soja, lasanha de soja, bolo de soja, pudim de soja, almôndegas de soja, leite de soja, iogurtes de soja e por aí fora, num rol de receitas que chegaria à China.

Depois temos também os derivados da soja, como o tofu ou o seitan que dão o nome a mais umas quantas receitas (basta tirar a palavra soja e substitui-la pela palavra tofu ou seitan, e obtemos o triplo das receitas. No ocidente, o seu principal uso foi sempre o óleo, já que o grão, as farinhas e o bagaço eram usados apenas na ração animal, e na alimentação chinesa e japonesa.

Mas foi o senhor George Osawa, o grande responsável pela introdução deste tipo de alimentação no Ocidente, embora tenha morrido de um vírus resistente a ela, o chamado “Bicho da madeira”, primo direito da mãe de Alberto João Jardim.

Tudo aconteceu num belo dia de Primavera, mais concretamente no dia 25 de Abril do longínquo ano de 1974. George Osawa havia chegado dois dias antes a Portugal, propositadamente para assistir à Revolução dos Cravos, a qual constituía cabeça de cartaz de todos os pacotes turísticos referentes a Portugal, tendo-se instalado confortavelmente num hotel da baixa de Lisboa, com vista para o cenário da Revolução.

Assim, lá estava ele e mais duzentos e trinta e quatro japoneses às janelas do Hotel do Carmo de máquina fotográfica em punho para testemunhar esse momento histórico (pré-anunciado logo no dia 3 de Agosto de 1968 pelo blogue de Manuel Tiago – “Salazar, caiu da cadeira, mas que azar!”), que seria a ocupação do Quartel do Carmo (onde se encontrava o chefe do governo, Marcello Caetano) pelas forças do Capitão Salgueiro Maia, vindas do Terreiro do Paço.

Foi este hotel que contratou a florista para levar cravos para a revolução, pois os japoneses estavam em regime de revolução completa, o que incluía, como bem sabemos, o sushi e os cravos. No preciso momento em que Salgueiro Maia passava por baixo da janela onde estava George Osawa, caiu-lhe uns croquetes e umas salsichas de soja em cima da cabeça, tendo o Capitão, mortinho de fome (pois desde que tinha saído de Santarém que não havia comido nada) olhado para cima e dito: “Sou o Capitão Salgueiro Maia e, em nome da revolução ordeno-te que passes para cá a paparoca, que os meus homens estão com fome!”. Ao que George Osawa respondeu: “Teu nome é Salgueiro? Símbolo de imortalidade, vais ser o herói da Revolução porque a tua raça é feita de ácido salicílico, poderoso analgésico que vai acabar com a dor do povo português!”. Dito isto, Osawa despejou-lhe em cima todo um cesto de iguarias macrobióticas, tendo este gesto sido repetido por todos os restantes duzentos e trinta e quatro turistas japoneses que se encontravam a assistir à revolução, tendo a rua ficado intransitável até ao fim da tarde, altura em que os soldados e o público que assistia à revolução, conseguiram, finalmente, terminar de comer o lanche macrobiótico dos japoneses.

Todo este aparato conduziu a um atraso considerável na rendição de Marcello Caetano, o qual se terá rendido já ao início da noite, pois “é complicado fazer uma revolução no meio de tanta salsicha vegetariana, de tanto empadão de algas e de tanto feijão akukI”, conforme terá declarado Salgueiro Maia aos jornalistas no final da revolução. E foi assim que George Osawa terá introduzido a alimentação macrobiótica nos países ocidentais. Se tivesse vingado a ala comunista no pós-revolução, hoje George Osawa seria conhecido como sendo o responsável pela introdução da alimentação macrobiótica não no mundo ocidental, mas sim, nos países comunistas de Leste… com Mikhail Gorbachev a fazer não a Perestroika, mas sim a Sojastroika. E Salgueiro Maia, o maior Herói da Revolução de Abril, arriscou ousar fazer a liberdade para agora ela ser tão maltratada. Malditos políticos e tiranetes institucionais que apareceram depois da Revolução de Abril e que pululam por aqui, por ali e por acolá, carnívoros insaciáveis que engordam à conta do povo, que punem quem não lhes lambe as botas, canibalizando sem dó nem piedade as liberdades de expressão e de imprensa, amordaçando e perseguindo gente que pensa e que por pensar é suspensa, despedida, posta de parte… sim, a censura existe, o nosso eu resiste até que um dia desiste!

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