De que está à procura ?

Portugal

Adriana Calcanhotto: dar aulas em Coimbra poderá resultar num disco ou num livro

© Facebook Adriana Calcanhotto

A cantora Adriana Calcanhotto estreou-se na quarta-feira, dia 22, a dar aulas como professora da Universidade de Coimbra, numa experiência que poderá resultar num disco ou num livro, fruto da vivência numa cidade feita de “camadas de tempo”.

A cantora brasileira vai estar um semestre na Universidade de Coimbra, entre aulas, incursões a bibliotecas e passeios por uma cidade “cheia de contrastes e de camadas de tempo”, numa experiência em que tanto será professora como artista, afirmou.

“É um semestre como professora, mas ao mesmo tempo é uma residência artística. Muito provavelmente deve resultar em alguma coisa: um disco, um livro, alguma coisa que eu não quero pensar ‘a priori'”, contou Adriana Calcanhotto, que falava aos jornalistas depois de dar a sua primeira aula aberta, intitulada “Eu ando pelo mundo”.

A artista espera que esse trabalho resulte da “vivência da universidade e da cidade”, que, aos seus olhos, é “bem atraente”, tendo sido palco “de acontecimentos muito importantes tanto para Portugal como para o Brasil”.

A primeira aula foi centrada na sua história de vida, mostrando-se desconfortável por utilizar tanto a primeira pessoa, ao ponto de apelidar a ‘masterclass’ de “eu, eu, eu”.  “É a situação mais difícil da minha vida: uma aula a falar de mim mesma”, constatou Adriana Calcanhotto, perante uma plateia onde estavam muitos estudantes brasileiros.

Durante três horas e com muitas canções à mistura, a cantora brasileira falou do seu percurso enquanto artista, desde a criança que ouvia a música popular na rádio da “babá”, ao crescimento com referências como Miles Davis ou Erik Satie, passando pelo guarda-roupa “estranho” da sua adolescência definido pela descoberta da tropicália, de Ney Matogrosso e de Secos e Molhados.

No Auditório da Reitoria, houve espaço para muitas referências, num cruzamento entre poesia e música, onde coube Ferreira Goulart – “nunca me cansou de me surpreender”, Chico Buarque, Vinícius de Moraes, o livro “A Mulher que matou os peixes”, de Clarice Lispector, com o qual passou a sentir que era uma leitora e não uma criança, ou a tradução de Augusto de Campos de um poema de John Donne, “Elegia”, que depois rodava nas rádios pela voz de Caetano Veloso ou de Simone.

“Um poeta extremamente erudito que se ouvia na rádio e se via na televisão antes de se ler algum livro. O Augusto de Campos conheci na rádio”, sublinhou a artista, que ainda falou da beleza do punk por não haver controlo nem ensaio e do seu primeiro disco “que saiu todo errado”.

Já quase no final da aula, Adriana Calcanhotto atirou-se contra as “classificações” da música, que considerou “uma coisa perigosa”, nomeadamente aquilo a que se chama de “música infantil”.

“Um dia vai-se fazer música para pobre? Para refugiado? Quem é que me pode dizer o que é música infantil? É uma invenção do adulto”, afirmou.

Entre fevereiro e junho, Adriana Calcanhotto vai escrever um livro para crianças sobre a UC e “desenvolver um plano de atividades intenso” na Faculdade de Letras, nomeadamente aulas abertas, ateliês sobre escrita e produção artística, palestras e exposições.

Nas aulas será possível perceber “as influências que [a artista] mobiliza e como tudo isso se mistura para produzir alguma coisa com um perfil próprio e um perfil que tem impacto sobre as pessoas”, explanou à Lusa o coordenador do Instituto de Estudos Brasileiros, Osvaldo Manuel Silvestre.

“Pode ser inspirador para os estudantes que procuram um rumo, um caminho”, notou o docente, considerando que há que fugir “à codificação” que hoje se vive daquilo que é a noção de “ensino” e recuperar “o essencial, que é transmitir um certo entusiasmo e fervor pelas matérias em causa”.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA