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Adolfo Mesquita Nunes

Li a entrevista que o centrista deu ao Expresso e publicada na edição do dia 10.02.2018, e a mim pareceu-me que não haveria muito a comentar. Estas entrevistas normalmente correm bem, são simpáticas para o entrevistado e até gostei bastante de alguns conceitos que o antigo Secretário de Estado possui acerca da sociedade, dos seus valores e essencialmente da descrição da sua actividade política, da sua vida académica e profissional.

A meio da entrevista, e depois de uma situação com um cartaz aquando da sua candidatura a uma autarquia onde alguém escreveu a palavra gay, Adolfo, em tom tranquilo, referiu que não não considerava aquilo um insulto tanto mais que é verdade. Ficaria chateado se lhe chamassem ladrão ou vigarista, mas homossexual não! Muito bem!

A situação da homossexualidade poderia e deveria a ficar por aí, mas o jornalista, uma vez aberto o flanco, enveredou por diversas perguntas acerca do tema resultando numa página de leitura.

Como a mim pouco me importa se Adolfo é homossexual ou não, se é ou não bissexual, se é ou não benfiquista, se é ou não maçon, se joga ou não padle, suporto perfeitamente esses temas numa entrevista longa, o que acho estranho é que o facto do homem ser um político homossexual passou a ser mais importante do que ser político com ideias e propostas.

Ouvi algumas pessoas acharem que foi uma palhaçada a entrevista, quem é o gajo, qual o interesse de entrevistar um larilas, e quanto a estes não há muito a dizer, nem sequer vou contestar, apenas vou deixar que eles evoluam um pouco mais em termos de aceitação do que é legal, pelo menos isso, e depois que fiquem lá com as suas discriminações de estimação, desde que as mesmas também sejam legais.

Para muitos, o assumir a homossexualidade em público é um acto de coragem, especialmente se o homossexual for uma figura pública, se for político ainda melhor. O assumido é elevado aos píncaros, quase apelidado de herói, exemplo para outros políticos que também deveriam assumir a sua homossexualidade! E depois disto, passa a ser um fulano competente, honesto, simpático, trabalhador e culto.

Eu por acaso não acho nada disso! Quem quiser assume, quem quiser não assume que ninguém tem algo a ver com o assunto, não acho que seja um exemplo, mas antes uma necessidade que Adolfo teve de falar em público sobre essa questão. É direito que ele tem, mas não tem que ser necessariamente uma obrigação de outros, nem é um acto de coragem nem deixa de ser.

Não deve demorar muito o tempo em iremos conviver com esse tipo de questões de forma natural, que a amigo baste que seja amigo e consideremos que é indiferente se é socialista, ou sportinguista, ou maçon, ou homossexual, ou católico, ou argentino, ou negro… A um amigo pede-se que a amizade que possuímos por ele, se retribuída!

Claro que vão levar bocas, vão ter que suportar piadas e anedotas sobre larilas, mas a vida é assim. É das tais merdas, imaginem que alguém vos pergunta há quanto tempo são heterossexuais, como é que que aperceberam que gostavam de pessoas com sexo diferente do vosso, se os vossos pais aceitaram isso tranquilamente ou se foi complicado, se tal circunstância vos prejudicou na vida social e profissional! Perguntas estúpidas, não é? Então não as façam aos homossexuais.

E santo Deus, não comecem com “adoro gays, são tão divertidos”, “são tão cultos”, “tenho um primo que é”… Isso é do mais gaiteiro que existe pá, são pessoas como todas as outras pessoas. E isto é importante!

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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