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A bandeira da Seleção

Havia, na casa de meus avós paternos, varanda, gradeada a ferro, de cor verde. Nela, existia pequeno mastro, esmaltado a azul e branco.

Em dias festivos, comemorativos da nossa História, meu avô, retirava do largo gavetão, da velhíssima cómoda de pau-preto, a bandeira, de seda pura: azul e branca.

Solenemente, e máximo respeito, hasteava-a, pela manhã, deixando-a a flamejar e a rutilar, ao vento e ao sol.

Quando a tarde se recolhia, retirava-a, cuidadosamente, e guardava-a, bem dobradinha, de novo, no fundo da gaveta da cómoda do quarto.

Para ele, a bandeira e o Hino Nacional eram símbolos sagrados da nação, dignos de todo o respeito.

A casa de meus avós era modesta; como modesta era a origem da família. Ele, neto de mestre – carpinteiro, de Arouca; ela, a mulher, neta de lavradeira do Marco; mas ambos amavam a Pátria, que os vira nascer.

Cinquenta anos depois, que meu avô hasteava a bandeira da monarquia, nasci, já em plena república.

Frequentei a escola, da minha cidade. O Sr. Baptista – professor do Ensino Primário, – ensinou-me a cantar “A Portuguesa”.

De pé, em sentido, todos – os alunos da classe – num coro, quantas vezes desafinado, gritávamos, a plenos pulmões: Às armas! Às armas!/Sobre a terra, sobre o mar,/Às armas, às armas!/ Pela Pátria lutar! / Contra os canhões, marchar! marchar!”

Aos domingos e dias feriados, era hasteada, a bandeira verde-rubra, na escola, e retirada, solenemente, ao entardecer.

Porque, a bandeira da Pátria, não devia, nem podia, ficar hasteada durante a noite, a não ser que fosse devidamente iluminada.

Ao matricular-me no liceu, o Sr. Regadas – professor de Canto Coral, – ensinou-me a cantar o Hino, comme il faut; muitas vezes obrigava-me a repetir, quando, por brincadeira ou descuido, desafinava.

A mesma “veneração” e respeito inculcaram, os meus superiores ao servir a Pátria, no exército; em período bastante difícil e cruel.

O tempo passou…; com ele, parte da minha geração; e a bandeira, que durante anos, fora quase esquecida… ressuscitou: pendurada em cabos de vassoura, presa a janelas, e à mistura, com lençóis e cuecas no varal.

Se outrora era ofensa, alterar ou deturpar símbolos, ou inscrever dizeres, agora, vem da China, com palavras e frases…

Só a vejo – e talvez por isso se tornou a bandeira da Seleção – em campeonatos de Futebol, a servir de: capa, chapéu, lenço de cabeça, toalha de praia e até fragmentada de, bikini; mas não a vejo – a não ser em edifícios públicos, – no Dia de Portugal; no 1º de Dezembro, ou 5 de Outubro!

Razão? Não sei. Sei, que de tanto a ver ”colada” à Seleção de Futebol, as gerações mais novas, chamam-na de “bandeira da Seleção”, e respeitam-na tanto, como a do FC do Porto ou do glorioso Benfica.

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